domingo, 24 de novembro de 2013

Felicidade?


Há algum tempo, li um texto interessantíssimo sobre a busca incansável da felicidade, que abordava de uma forma muito interessante essa “exigência social” de felicidade completa e em tempo integral...
Como leio muita coisa na web, o tempo todo, não me lembro exatamente onde li o texto, talvez num dos blogs hospedados no Yahoo ou pode até ser que o recebi por e-mail. O fato é que aquilo me tocou profundamente.

Tentei localizar o texto, mas ao procurar por aí, além das incansáveis letras da música Felicidade, do Fabio Jr. (...brilha no aaaaar, como uma estreeeeela, lá lá lá lá lááááá.... – se eu fiquei com a música na cabeça, devo compartilhar com o mundo...) e de diversas sugestões de frases e citações sobre felicidade, não o encontrei.

Mas encontrei um texto antigo, exatamente na mesma linha, o Nada é só bom, da Eliane Brum, postado no site da Época em Setembro de 2010. E, além do texto ser muito bom, o que também me chamou muito a atenção foram os comentários (adoro ler comentários de leitores na web!!!), postados muito tempo após a publicação do texto, até 2012. Pelo visto, não fui só eu que, além de ler o texto depois de muito tempo de sua postagem, concordo com o que ele diz...
Além disso, também achei uma citação muito interessante nesse blog, atribuída a Miguel Mahfoud, que, eu, realmente, não sei quem é (e sequer chequei a veracidade da citação):

À todos nós interessa reconhecer o que somos, profundamente, porque nos interessa a realização, a nossa realização enquanto pessoas. Então, trata-se de aprender a reconhecer os elementos essenciais do nosso ser, aprender a reconhecer que somos exigência de felicidade, que somos exigência de realização.

Além de reconhecer que somos exigência de felicidade e de realização, o trecho citado acima também retoma a máxima “conheça-te a ti mesmo”, que também sempre me faz refletir...

Mas, enfim, lendo essas coisas, retomei várias das ideias que, se não estavam no texto que originou essas reflexões, foram causadas por ele, relativas à crescente imposição social de felicidade.

Quem disse que temos que ser felizes o tempo todo? E qual o referencial de felicidade? Cada dia mais, vejo que esse sentimento está atrelado a ter um relacionamento com outra pessoa (como uma das pessoas que comentou o texto da Eliane Brum, que perguntou como ela faz para manter a esperança quando se sente insatisfeita por, por exemplo, não ter um namorado – hein?!) ou ao consumo (lembrando sempre de toda a recente polêmica sobre o tal “rei do camarote”).
Mídia, publicidade, tudo isso, sem dúvida, tem um papel relevante nessas escolhas. Mas a sociedade, que é constituída por nós, seres humanos falhos, repete essas necessidades incansavelmente e quase todos as tomam como verdades absolutas, como fatores indispensáveis à “formação” (se é que posso falar assim) da felicidade.

E aqueles que não se encaixam nesses modelos pré-fabricados, prontinhos e – ouso dizer – quadradinhos de felicidade estão automaticamente excluídos da sociedade. Não pertencem à categoria das pessoas felizes e, portanto, devem se sentir miseráveis até que alcancem esse estado de felicidade desejado.

Pergunto se ninguém questiona esse modelo, esse estado de felicidade, esse molde de comercial de margarina mesmo – sei que falar de margarina é clichê, mas, não tem jeito, isso é o que melhor representa esse sentimento imposto pela sociedade como exemplo de sucesso na vida. Isso e, claro, as novelas do Manoel Carlos, que mostram aquelas famílias tomando café da manhã em maravilhosos apartamentos no Leblon, como se a vida fosse, de fato, cor de rosa...
E nessa busca por uma felicidade inatingível, irreal, as pessoas atingem níveis inacreditáveis de infelicidade! Como se não ter alguém ao lado, um carro do ano, sucesso profissional absoluto, família linda, Doriana na mesa e café da manhã de novela fossem indicativos de um fracasso indesculpável!!!

Isso me angustia muito. Principalmente quando a minha concepção de felicidade nunca realmente se encaixou nesses níveis.
Veja bem, isso não quer dizer que eu não almeje ou desdenhe desses objetivos que listei acima ou até mesmo de quaisquer outros. Não pretendo ficar sozinha, sem carro, sem margarina ou café da manhã. Só acho que nada disso é sinônimo de sucesso ou felicidade.

E nessa busca pelo texto perdido, encontrei a definição “wikipédica” de felicidade. Não resisti e parei pra dar uma olhada. Ela diz assim:
A felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou sentimentos que vai desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo. A felicidade tem, ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior. Existem diferentes abordagens ao estudo da felicidade - pela filosofia, pelas religiões ou pela psicologia. O homem sempre procurou a felicidade. Filósofos e religiosos sempre se dedicaram a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou estilo de vida levaria à felicidade plena.

A felicidade é o que os antigos gregos chamavam de eudaimonia, um termo ainda usado em ética. Para as emoções associadas à felicidade, os filósofos preferem utilizar a palavra prazer. É difícil definir, rigorosamente, a felicidade e sua medida. Investigadores em psicologia desenvolveram diferentes métodos e instrumentos, a exemplo do Questionário da Felicidade de Oxford, para medir o nível de felicidade de um indivíduo. Esses métodos levam em conta fatores físicos e psicológicos, tais como envolvimento religioso ou político, estado civil, paternidade, idade, renda etc.
Friso: estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico. Será?

O que significa, exatamente, dizer “estado durável”?
Pessoalmente, sempre achei que felicidade é um estado de espírito. Mas momentâneo. Isso pode soar meio bipolar, mas acho que qualquer ser humano pode oscilar da felicidade mais radiante para a infelicidade extrema (e vice-versa) de uma hora para outra, dependendo do que acontecer com ele em determinados momentos.

Pra mim, a felicidade é aquele sentimento que decorre de algo que te preenche, que te completa.
E, por isso, para alguns, realmente, a felicidade pode estar intimamente relacionada a ter um namorado(a), um carro do ano, a ser o rei do camarote ou a viver como em um comercial de margarina.

Mas isso não quer dizer que todos esses acontecimentos sejam fatores de felicidade. Isso tudo pode representar uma mortal infelicidade para muitas outras pessoas, que não se enquadram nesse modelão “novela do Manoel Carlos” (nada pessoal!). Para alguns, estar sozinho pode representar o maior grau de felicidade esperada em determinado momento.
E esse tipo de pessoa, que não se enquadra nos padrões socialmente estabelecidos para as pessoas “felizes” não pode ser taxado infeliz pela ótica dos outros, que não conseguem enxergar o real sentimento de felicidade que os possui.

Em compensação, não custa olhar com mais cuidado, carinho e atenção para essas pessoas que são aparentemente felizes porque se enquadram nos padrões socialmente estabelecidos. Isso porque essas pessoas podem estar extremamente infelizes justamente porque passam o tempo todo perseguindo esses ideais de felicidade que a sociedade lhes impõe.

E a perseguição por uma felicidade irreal, completa e em tempo integral é algo extenuante, que pode acabar com o pouquinho de felicidade de qualquer um que busque a aceitação social acima de todas as outras coisas na vida.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

...escolhas...

Um dos meus filmes favoritos é O Diabo Veste Prada. Não tenho problema em admitir que gosto de filmes americanos bobos, de sessão da tarde. Toda vez que vejo esse filme passando na TV (e ele passa muito na TV a cabo...), sempre paro para assistir.



Apesar de toda a aparente futilidade do filme, acho que ele aborda a moda de uma forma bem interessante. Mas o que eu mais gosto do filme não tem absolutamente nada a ver com moda. Gosto mesmo é da reflexão que o filme provoca com relação às escolhas que fazemos em nossas vidas.
Quem assistiu, deve lembrar que no final, Meryl Streep diz para a Anne Hathaway que tudo o que aconteceu com ela durante o filme decorreu de suas escolhas e que nada lhe havia sido imposto.
De fato, em nossas vidas, reclamamos muito que não temos opção, que temos que fazer uma ou outra coisa, mas isso não é bem verdade...

Quem acredita em livre arbítrio sabe que tudo o que acontece em nossas vidas é resultado de nossas escolhas. Escolhemos, a todo momento, como nos portar, o que fazer, de que forma agir ou reagir e isso, sem duvida, é o que nos move.

Apesar de acreditar nisso, vivo enfrentando situações que me fazem questionar até que ponto somos realmente responsáveis por tudo o que nos acontece. Costumeiramente, convenço-me de que somos inteiramente responsáveis, mas isso nem sempre é bom, porque mesmo sabendo que muita coisa decorre de minhas próprias atitudes, sinto-me impotente na maioria das vezes.
Isso porque agir conforme nossa consciência e portarmo-nos exclusivamente de acordo com nossas vontades é algo “socialmente indesejado”, já que, vivendo em uma coletividade, temos que ceder em alguns pontos para respeitar os direitos e interesses dos outros. Temos, sim, (temos mesmo?) que nos conformar com algumas regras e convenções sociais que nos impedem simplesmente de agir como “porra loucas” o tempo todo. Embora, obviamente, isso não seja uma “regra” seguida por todos, mas pela grande maioria de pessoas que tenta ajustar seu comportamento à vida em sociedade...

Esse tipo de reflexão também me faz questionar até que ponto, realmente, não podemos agir como queremos. E reconheço que podemos. Para isso, só precisamos nos despir dessa necessidade absurda que temos de “aprovação social”. É o famoso “não ligar para o que os outros pensam”.
O problema é que sempre ligamos pro que os outros pensam, mesmo quando acreditamos que não ligamos ou adoramos alardear por aí que “não estamos nem aí”... Claro que existem poucas exceções, mas as pessoas, em geral, têm uma necessidade de aprovação social sim. E, infelizmente, são influenciadas e, algumas vezes, até mesmo definidas pelo que os outros pensam ou falam delas.

Daí, não agem única e exclusivamente de acordo com suas consciências.

Saindo da abstração e trazendo esse questionamento para a minha vida, penso que, infelizmente, me vejo presa em algumas situações nas quais acredito não ter saída se não agir de determinada maneira.
Mas, para não ser hipócrita comigo mesma, tenho que reconhecer que tenho, sim, escolha. Posso me portar de forma distinta, mas não quero. E essa minha ‘vontade’ não é consciente e deliberada. Ao contrário, é íntima. E não quero agir diferentemente porque tenho, lamentavelmente, uma necessidade de ser vista ou considerada de determinada forma.

Agir de forma diferente não é algo simples. Temos que nos despir de preconceitos e dessa necessidade de aceitação social. E, realmente, não ligar para as consequências.
Confesso que eu detesto me sentir num beco sem saída, com um único caminho a seguir, especialmente quando esse caminho não foi escolhido diretamente por mim, mas por terceiros.

Aí, paro, penso e vejo que eu contribuí fortemente para me colocar numa situação dessas. E tenho a opção de voltar para trás, ao invés de seguir nesse caminho.
Algumas pessoas optam por segui-lo por simples comodismo. É mais fácil continuar a ir em frente, quase que por ‘inércia’, do que parar para refletir sobre suas vidas e concluir que tudo poderia ser diferente. Temos sempre aquela sensação idiota de que não temos tempo suficiente para colocar nossos projetos em prática, começar novamente...

Fico feliz ao ver pessoas que não são travadas assim. Eu, infelizmente, ainda sou. Espero poder me despir disso tudo um dia. Mas, por enquanto, ainda sigo alguns caminhos sem tê-los escolhido e continuo p*&$# da vida por me sentir sem saída.

A diferença, penso eu, é que paro e reflito e – triste! – reconheço que participei fortemente das escolhas por esse caminho que às vezes me sufoca. Não só segui em frente, como também deixei de voltar para trás. Mas o fato de reconhecer minha participação nisso só me “acalma o coração”. Vejo que não sou um fantochezinho social tão perfeito. Ainda penso, questiono e reflito. Mas, – que pena! – ainda espero chegar o dia em que eu tenha coragem de, como na cena mais emblemática daquele filme, jogar no chafariz da Place de La Concorde tudo aquilo que me irrita e que, se eu tivesse feito minhas escolhas deliberadamente, jamais teria cruzado meu caminho...