Em algum ponto da música (aqui),
se diz:
Careful
what you wish (Cuidado com o que você deseja)
Careful
what you say (Cuidado com o que você diz)
Careful
what you wish (Cuidado com o que você deseja)
You
may regret it (Você pode se arrepender)
Careful
what you wish (Cuidado com o que você deseja)
You
just might get it (Você pode conseguir)
(Pra falar a verdade, agora que eu transcrevi, tenho quase
certeza que foi no “Esqueceram de mim”, quando o Macaulay Culkin deseja que a
família dele suma...)
Enfim, a verdade é que eu era pequena quando ouvi isso e
guardei comigo pra sempre, porque sempre que estamos meio de saco cheio temos
essa incrível capacidade humana de desejar coisas horríveis. E, realmente, se
algum anjinho passar e disser amém pra algum desejo desses, as consequências
podem ser bem ruins. Imagina só naqueles dias de TPM em que a gente quer que
tudo e todos se explodam...
E o mais interessante é que isso foi virando um pedaço das
minhas milhares filosofias de vida, já que senti bem na pele o que isso
significa.
Quando eu era criança, passava ali na Avenida Paulista e
ficava encantada ao ver aquelas pessoas tão “adultas”, na minha concepção,
sentadas nas escadarias da Gazeta. A maioria era aluno do Objetivo, fazendo
cursinho pré-vestibular, o que eu só fui entender muito tempo depois. Aí, eu
olhada e achava aquilo o máximo, que seria muito legal viver naquele ambiente
que, até então, eu nem sabia exatamente do que se tratava.
Anos se passaram, ganhei uma bolsa de estudos pra fazer o
colegial (me entreguei agora, hein?!) no Objetivo. Me matriculei na unidade da
Lapa e no meio do colegial, fui estudar na Marquês de São Vicente. Mas durante
os três anos de “Ensino Médio”, tive que assistir umas aulas de programação
avançada na Paulista. Lá ia eu, toda quarta-feira, ter aula a tarde toda no
quarto subsolo do prédio da Gazeta, na Paulista. Invariavelmente, no intervalo
ou ao final das aulas, sentava na escadaria e fazia parte daquele cenário que
eu tanto admirava...
Acho que essa foi a constatação mais cedo que tive de que
devo ter cuidado com meus desejos, pois eles podem se tornar realidade. Pelo
menos, é o primeiro desejo que eu me lembro de ter acontecido sem eu ter me
esforçado muito pra correr atrás dele.
Depois disso, lembro que quando estava estudando pra
concursos eu realmente não tinha muita ideia do que queria fazer da minha vida.
Quando abriu concurso pra Procurador do Estado de SP, me empolguei. Como
estagiei em uma Secretaria do Estado, conhecia o trabalho e achava muito importante
a atuação dos Procuradores do Estado.
De alguma forma, coloquei na minha cabeça que aquele era o
concurso em que eu queria passar. Mas, como cheguei à essa conclusão muito em
cima da hora, obviamente não passei. Mas cheguei tão perto, que animei a
estudar com mais afinco dali pra frente.
Assim, quando estava estudando pro concurso de Procurador
Federal, tive que ler a lei orgânica da AGU (Advocacia-Geral da União) e, até
então, eu nem sabia muito bem como era a atuação de Advogados da União,
Procuradores Federais e etc... Só quando li a LC 73/93 é que vi que a atuação
do Advogado/Procurador do governo federal, evidentemente, era igual à do
Procurador do Estado, só que em nível federal.
Lembro bem de, ao ler as atribuições dos Advogados da União,
pensar que talvez essa fosse a carreira ideal e que trabalhar em um Ministério
seria muito mais interessante que em uma Secretaria de Estado, até por suas
dimensões, que afetam todo o país. Dali pra frente, pensei que queria muito
poder trabalhar na Procuradoria da Fazenda Nacional, pra entender um pouco
melhor essas questões fiscais, e, depois, o ideal seria ir pra carreira de
Advogada da União e, quem sabe um dia, num futuro bem distante, trabalhar em um
Ministério. Esse tipo de atuação seria muito relevante e eu me sentiria fazendo
algo realmente para mudar o país (e quem sabe o mundo?).
Dois meses depois dessa reflexão, prestei concurso pra
Advogada da União. Passei. Minha lotação inicial foi logo em Brasília e, entre
tantos Ministérios, fui lotada direto no Min. de Minas e Energia. Até hoje
estou aqui em Brasília, trabalhando num Ministério. Apesar de não gostar muito
da cidade e ser doida pra voltar pro caos de Sampa, o trabalho é realmente
muito interessante e relevante e eu me orgulho de poder, de alguma forma,
contribuir para a melhoria do país.
Seis anos. Sempre que penso em reclamar (muito) de ainda estar
presa por aqui, lembro bastante da sensação que tive ao ler as atribuições da
minha atual carreira e dessa frase emblemática... Ninguém mandou desejar isso.
Claro que eu me esforcei pra passar no concurso, nada caiu
do céu. Mas não me esforcei realmente pra ir parar, logo de cara, em um
Ministério. Menos ainda em um Ministério tão relevante. Mas não posso reclamar,
obviamente, pois, afinal, fui eu quem quis isso, não?
Outra coisa que me marca bastante é lembrar que, também desde
criança, eu sempre achei o máximo ver em filmes e seriados esses executivos que
viajam a trabalho. Só fui entrar num avião pela primeira vez com 15 anos e sei
que fui precoce. À época, viajar de avião era raro, quase um luxo...
Mas achava esse povo de terninho e tailleur, com malas de
rodinha, viajando pra lá e pra cá o reflexo do sucesso profissional. Não lembro
de desejar algo assim, mas me admirava muito, como aquela galera na escadaria
da Gazeta.
E, então, vir morar em Brasília me fez me tornar habitué de
aeroporto. Cheguei a ir pra SP em quatro finais de semana seguidos no período
mais enlouquecido / pré-casamento da minha vida. Com o maridão por aqui, a frequência
das idas a Sampa diminuiu um pouco, mas continuo indo pelo menos uma vez por
mês. E viajo a trabalho. Somando tudo, acabam surgindo situações malucas como
em junho deste ano, em que passei um mês inteiro viajando: final de semana em
SP – um em Brasília – outro em Salvador – outro no Rio – mais um em Sampa,
chegando em Brasília no domingo à noite e viajando na segunda-feira à noite de
novo, a trabalho. Culpa da Copa das Confederações...
Mais um mês doido vem por aí, com viagem a trabalho, volta,
semana de curso puxada em Brasília, mais um finde em SP, mais uma semana de
trabalho em BSB, depois Sampa de novo e viagem de férias. Haja paciência e rodinhas
nas malas!
Mas por mais que eu me canse de viajar, nunca esqueço no
quanto isso, para mim, parecia algo tão chique, puro glamour! E reflito sobre o
quanto nada glamouroso é viver de aeroporto em aeroporto, viajar nesses aviões “confortáveis”,
ser sempre tão “bem tratada”, etc, etc, etc... Mas nada que um cartão de
crédito que te dê sala vip não possa ajudar a melhorar...
E penso que esse é só mais um exemplo de como eu preciso,
realmente, tomar cuidado com o que desejo na vida. Do contrário, só Deus sabe
onde posso parar!!! J
Por isso, quando ouvi essa música do Metallica e prestei
mais atenção à letra, fiquei contente em saber que eu não sou a única que tenho
que tomar cuidado com meus desejos. Eles podem se realizar. E podem nem sempre
ser bons...
No meu caso, claro, não tenho do que reclamar. Mesmo meu
exílio em Brasília não é a pior coisa do mundo. Ao contrário, me proporcionou
coisas muito boas até hoje.
E vc, já pensou em quais desejos seus se tornaram realidade?